2.2.13

Aos filhos (ainda) não nascidos


2012 foi um ano mau. 2013 já promete ser pior, porque assim feitas as contas, eu e o teu pai já vamos ganhar menos uns belos trocos por mês. Já sabes que somos pessoas poupadas, mas mesmo assim cansa um bocadinho trabalhar com afinco e ver os dinheiros a diminuírem no recibo a cada final de mês.
Últimamente, vimos nascer ou soubemos de bebés que vão nascer alguns no círculo de pessoas mais próximas. Claro que, como mulher casada que sou, gostava de ver a minha barriga crescer e ver o teu papá cada vez mais babado. Mas é que, primeiro, a mãe gosta muito de trabalhar e tem alguns sonhos a concretizar antes de expandir a família. Depois, a conjuntura não é nada favorável. Ambos trabalhamos na cidade grande, com infraestruturas caras e muitas vezes pouco práticas. Depois, são os ordenados a mingar (significado: diminuir). Tenho uma amiga muito próxima, alemã, que sem querer ficou grávida e, apesar de amar Lisboa, o sol e mar de Portugal, decidiu ir para a sua cidade. É que vai ter uma licença alargada para estar com a sua filhota quando nascer. Pelo menos um ano, com o seu posto de trabalho garantido. Depois, os abonos são gordos, facilitando a vida às famílias. Por outro lado, em Portugal, os abonos são escassos (esmolas) e cada vez mais negados. Eu sei que temos uma dívida a pagar, mas uma família joga com o dinheiro e infraestruturas que tem disponíveis e neste momento ter filhos é ficar a contar trocos ao final do mês. E não quero isso. Não sou de luxos, mas também não quero viver com angústia.
Muitas vezes penso como seria bom levar-te a passear nas manhãs Lisboetas, ver-te brincar com gosto, ensinar-te o que sei em conjunto com o teu pai, que até sabe muito mais histórias que eu; eu sei línguas, palavras do desconhecido que ajudam a abrir os horizontes e a ser mais tolerante.
Porém, penso na rotina árdua que já temos, na casa pequena que conseguimos pagar e pôr algum dinheiro de parte ao final do mês, para que um dia os nossos filhos, ainda não nascidos, possam estudar e viajar um pouco, porque ficar na praia lusitana é bom, mas é bem melhor conhecer novas perspectivas, ideias e formas de viver.
Somos um casal jovem, que noutras circunstâncias até seríamos pais novos. Mas a política, os nossos gestores públicos que só olham para o seu umbigo, a carga fiscal desencorajam a maternidade bem planeada. Não quero dizer que o Estado deve facilitar tudo. Eu fico bem se a economia estiver estável e ganhar o razoável para não contar trocos. Se os portugueses estivessem todos bem, não precisavam de esmolas, de recorrer à saúde pública com preços agora ridículos.
Assim, um dia nascerás. Seremos uma família feliz, porque temos consciência que agora não é o momento e, quando for, nós sabê-lo-emos. Cá ou num país mais "children-friendly". 

Por isso não te preocupes. Todos os teus sonhos nascerão contigo e cá estaremos para te receber.

10.1.13

Da leitura



As estações de comboio e de metro costumam ser sombrias. Cada pessoa que passa leva a sua história, de onde vem, para onde vai, com um enorme balão de pensamentos junto à sua cabeça. Algumas não levam pensamentos, levam música, alta baixa, calma, de ritmo acelerado em consonância com os seus pés... Não há balões mais bonitos que outros, aqui a subjetividade não entra. Todos têm direito a pensar, a emitir ondas de pensamento que condigam com a sua personalidade. Mas, como tenho direito à subjetividade neste espaço negro que é o meu ecrã, digo que os balões que mais me agradam é o das pessoas que vão absorvidas pelo seu livro.
Sair de casa a correr, chegar à estação onde se apanha metro, comboio, paragem de autocarro, aeroporto, etc. Abrir a mala (para os minimalistas, o saco de pano ou o não-saco que são as suas próprias mãos), olhar para a capa (seja ela do livro impresso ou a que protege o seu leitor eletrónico) e lembrar-se do livro que tem estado a ler em cada minuto em que lhe parece apropriado. Numa sequência fulminante, as cenas e rostos imaginados das personagens passam-nos à frente da cabeça, atrás, não interessa, atualizando-nos da intriga apresentada ali.
Quando não acontece prontamente, abre-se no sítio em que se deixou pendurada a história (uns leem por capítulos, eu pessoalmente leio até me cansar e paro abruptamente), ao ler três, quatro palavras, a atualização ou a ligação com a história é restabelecida e somos atirados ao maravilhoso mundo que o autor nos criou, para nos entreter e fazer esquecer que estamos no Cais do Sodré, lado a lado com fumadores sobre o cais (com letra minúscula). Pela força do hábito, já sabemos quais as escadas subir, qual a porta a abrir e que lugar tomar, de preferência do lado em que apreciaremos as águas, primeiro do rio e depois do mar, vice-versa no sentido oposto. Esses são momentos em que descanso do livro, o pouso sobre o colo e admiro a parte mais bela do trajeto; se a história estiver num diálogo arrebatado ou qualquer outro tipo de ação de colar a vista ao papel, perco essa fase da viagem, sabendo que amanhã lá passarei, mesmo que a luz já não seja a mesma, lá passarei.
Há alturas do dia ou carruagens do comboio em que ler é uma atividade coletiva e cada balão apresenta um tema diferente. Não vejo balões nem leio pensamentos, mas vejo espelhado nos rostos de quem lê as palavras, frases, trechos que formam um universo único pela forma como se apresenta. Inúmeros fatores formam aquela interpretação num momento único. Porque, se se voltar a ler aquilo mais tarde, mesmo que seja no mesmo comboio, a interpretação será diferente. Caso vos pareça exatamente igual a outra situação, desenganem-se. Ou então não evoluíram de todo (será possível? sim, isso é o que penso de certas atitudes).
Há uns belos anos atrás, arriscaria a dizer uns seis, poucos liam nos transportes públicos. Nem a revista Caras. Não sei se era pelo poder esparso económico (talvez, mas hoje em dia é pior), se pelo receio de expor os seus interesses aos olhos curiosos da autoridade pública que é o vizinho do lado. Também não percebo o hábito de forrar o livro para que ninguém mais possa saber qual foi o título que lhe ofereceram barra compraram barra requisitaram na biblioteca (isto ainda existe?); felizmente, é uma realidade agradável, olhar ao longo da cobra metálica e ver sobressair todo o tipo e formato de livros das mãos dos passageiros. Observar os outros é algo que todos fazem e pouco mal tem, mas prefiro levantar os olhos apenas para descansar e não para admirar o look dos que me rodeiam. Já me bastam os cheiros emanados e misturados pela concentração num espaço confinado. Ah, há seis anos as pessoas já andavam em metros de 3 carruagens? Que me lembre, não.

 
(imagem daqui)


Fechar o livro significa ter chegado ao local de destino. Por vezes, é uma irritação, porque precisamente quando estava a ficar interessante, temos de fechar o livro, pois caminhar a ler ao mesmo tempo não calha bem com a cidade que temos.


16.10.12

Fado is not the saddest thing

Something is out of control. I am happy with my job. My bosses are very kind and I believe I produce more because of it. The sad part of it: I am in Portugal. Very beautiful country, with a lot of potential, very shinny. It is really beautiful, my family was born here, I was born here and a lot of my friends stay around here (others are traveling around the world and I miss them).

However, Portuguese people is suffering a lot. We have been behaving, I think we cannot be compared to the Creeks, making a lot of troubles since they are under IMF control.

I fear this will change.


Protests are shouting out loud in front of the parliament, families struggling not to loose their homes.
Politicians want to maintain their lifestyle, getting 3 or 4 pensions when they get retired; the people is going to pay huge taxes in 2013...

I agree that we have to change our system, not spending the money we were spending, but we have to support families, giving some benefits to those how are having children, securing Portugal's future; supporting those how have new promissory ideas to make business (I am not saying: give money, but borrow money).

How can we grow under these conditions? Very sad to see my friends leaving, searching other countries to live, to work and to have children.

I hope I am not forced to be the next one leaving.

26.9.12

A bela da não-queda de bicicleta



Desta vez, saiu de casa com a sua bicicleta e não caiu. Tomou mais cuidado com os impulsos dos pés nos pedais para sentir melhor a consistência do piso e a ressonância do comportamento das rodas. Desta feita, decidiu descer até ao centro da cidade.
 (imagem retirada da net)
E se eu descer esta rua de sentido proibido? Vou em cima do passeio, só para evitar encontros desagradáveis, depois meto pela movimentada avenida. São agora 11h da manhã e o trânsito é calmo. Há muitos carros de serviço encostados na faixa da direita; mil quatro piscas ligados até onde a vista se perde. Apesar disso, descer isto é mesmo fixe, sinto a adrenalina a subir em proporção ao vento que bate na cara. Nem preciso de pedalar. Vou aqui na minha, mais ou menos ao centro da via, porque ali atrás houve um fulano que abriu a porta do carro depois de estacionar e nem olhou. Bolas, foi mesmo por um triz. Com bicicleta nova e tudo! Bem, agora aqui nesta parte é que tenho de ter cuidado. É que não estou nada habituada a partilhar a via com carris. Sei que eles estão à espera que eu me arme em heroína e os passe da mesma forma como mudei de faixa de noite, lá para os Nortes da Europa. Estou mesmo a ouvi-los: "olha para esta, daqui a nada beija-nos a superfície luzidia!". Abrando e ignoro os seus gritos, assim como os olhares de admiração dos transeuntes e dos machos latinos que têm sempre um comentário na ponta da língua quando passa alguma mulher. E neste caso de bicicleta! Que admiração, credo! Mas continuando, a meio da minha manobra meticulosa, passo um e outro carril, gentil e agradavelmente, apenas para contornar este quatro piscas da BMW. E ouço: cuidado, olha que vais com as rodas no chão! Devia haver uma coima para estes piropos descabidos e dignos de um QI negativo.
Sacudo o desprezo da mente e constato que estou pela primeira vez no centro da cidade de bicicleta, sentindo um friozito de contentamento na barriga. Quero lá saber que olhem! Toma toma, sou peão e veículo ao mesmo tempo. Basta saltar da bicicletaaaa! Se está vermelho para veículo, passo como peão, subo o passeio, desço passeio, pedalo na estrada, travo na estrada, entro para as pracetas e respeito os peões como me respeito a mim mesma.
O mundo é meu!
Acalma-te, vá, faz lá o que vinhas aqui fazer que ainda tens de fazer um percurso inverso. Talvez hoje eu mereça uma medalha de Coragem Extra, por ter sido capaz de andar sobre o negro asfalto. É uma pequena maluquice, o passe expirou e só preciso de o carregar para o mês que vem, portanto, não vou ficar enterrada em casa à espera do início do mês! A bicicleta está aí para isso mesmo. Um tanto a medo, fui e regressei sem prejuízo de maior, com um "até já" voltado para esta pequena viagem ao mundo agitado da cidade, que, apesar de repleta de armadilhas, não me implorou que caísse.

24.9.12

A bela queda de bicicleta




A primeira vez que saiu de casa com a bicicleta, caiu. A calcada escorregadia e cheia de obstáculos fê-la estrear-se no chão. Pensou para consigo que esta ideia de ter um comportamento mais responsável no que toca ao ambiente talvez não fosse assim tão genial. Comprou uma bicicleta através de um anúncio de usados, com o intuito de passear, de fazer exercício e poupar uns meses de transportes públicos. Perderia tempo de leitura, ganharia uns músculos mais tonificados. Porém, a queda apresentou-lhe uma das primeiras dificuldades: a cidade de Lisboa não estava preparada para a circulação de bicicletas; pelo menos não tão bem quanto as cidades do Norte da Europa. Na sua íntima opinião, a cidade de Lisboa nem sequer está bem preparada para a circulação de automóveis. Os passeios são feitos de um material escorregadio; a disposição das ruas é pré-histórica. O ambiente rústico das ruas não se adequa a outro meio de transporte para além das ditas pernas, principalmente nos pequenos bairros (ou inclinados!). Sem nada, calcado confortável e anti-derrapante, mochila e nem pensar em carrinhos de bebé.
(foto retirada da net)
Adiante. Está na hora de me levantar. Talvez tenha de voltar a casa para trocar de roupa. Não, parece que os danos são nulos. Mas que maçada! A bicicleta ficou com uns riscos. Enfim, marcas das dores de crescimento desta nova fase. Onde é que eu ia mesmo? Ah, tenho de levar estas roupas à associação. Depois vou cortar o cabelo e, se der, parar para tomar um cafezito e ler o jornal. Talvez devesse escrever sobre esta minha experiência de cair de bicicleta. Ninguém viu, ainda bem, mas e se eu caísse em plena estrada ou ciclovia? Será que me acudiriam? No Norte de Europa isso aconteceu-me. Pelo menos três homens vieram ter comigo e perguntaram-me se eu estava bem... Caso estivesse à procura de namorado, teria sido a oportunidade ideal, mas fiquei cheia de vergonha. Como era de noite e eu não tinha luz, não vi que a ciclovia tinha um pequeno desnível em relação ao passeio de peões... Ao passar de um para o outro, com o ângulo incorrecto, dei conta que estava no chão. Portanto, duas regras muito importantes de uma queda só: usar luz durante a noite e ter atenção aos desníveis.
Em Portugal, os desníveis são outros. Subir uma calcada é um desporto radical. Por isso é que os idosos teimam em andar pela estrada (meios rurais), em vez de subirem o passeio.
Ok, não vou olhar apenas para os aspectos negativos da cidade. Cada vez que me sento num banco da Duque d'Ávila, admiro os vários utilizadores da ciclovia. São variados e todos deviam ostentar uma medalha de Coragem! E a todos aqueles que partilham os asfalto negro com os automóveis, esses! Deviam ostentar uma medalha de Coragem Extra.
Eu cá vou experimentando devagarinho. Ainda ontem vi uma pasteleira a derrapar numa rua de calcada larga. Era uma rapariga. Também ela devia ostentar uma medalha, porque podia ser eu no lugar dela. Mas não, ela nao caiu.

13.3.11

A ir

Não tenho foto que o prove, mas provei comida egípcia (ou será egícia??) no Pirâmide, sito da Rua Passos Manuel n.°116 A, recém-aberto. Das 11h à 1h!

A sala de refeições é simplesmente linda. Senti-me bem, como em casa, apesar de sermos o único casal lá a jantar. É que este local ainda é desconhecido para muita gente. Por valer a pena, venho aqui convidar-vos a comer uma pita, se tiverem com desejos de kebabs :) Fumar shisha, etc.

Ou para grupos, também têm dança do ventre.

Vou começar a frequentar... perto de casa e aberto até a esta hora... mm bom para noites mais prolongadas.


4.11.10

Blogue recomendado

Venho aqui só citar um blogue que tenho lido quando posso:

http://www.poupaeganha.com/

Cheio de dicas para poupar, reciclar e até ganhar dinheiro! Talvez me dedique a algo do género nos fins de semana. Depois de fazer tudo o que me proponho sempre a fazer.
Esta vida é uma correria, mas é uma feliz correria.

Aproveitem!

9.7.10

Invasion

Com o meu medo de falta de privacidade,
com receio que o meu IP seja detectado a cada passo que dou.

Este sou eu, o Homem com medo, medo do excesso de informação fútil e desagradável,
que presentemente disponibilizo ao entrar na conta desta senhora, só para lhe ler os rascunhos.
Mais não sei fazer, pouco sei destes bichos eléctricos e sensíveis ao toque, que são os computadores.
Vejo comentários que nunca foram aceites. Não os entendo, são anónimos e descabidos. Mas a não revelação por parte da autora do blogue deve ter um motivo forte. E os autores dos comentários que aqui vêm escrever e não são aceites... como explicaria isto, menina?
Ou melhor? qual o propósito destes posts?

Cala bem essas mãos, faz o teu papel de interlocutora solitária.

Desaparece do mundo informático, não te ligues à virtualidade.
Grita com os teus verdadeiros pulmões as tuas reflexões...
Não tens inspiração.

20.6.10

Adeus de longe/perto ao Saramago


Tive tempo, mais uma vez, e oportunidade de prestar a minha última, sendo também primeira, homenagem à ilustre figura da literatura portuguesa, o Saramago.
Bastava umas estações de metro ou uma subida ao Alto de S. João.

Mas não fui. Vi pela televisão. Recusei-me a ir, pelo simples facto de ter havido lágrimas. Uma pessoa que tanto escreveu, chocou e acarinhou os Direitos Humanos, devia ser homenageado com palmas, música e nunca com lágrimas. A família, essa, entendo que verta lágrimas por ele. Mas o Povo Português devia rir e cantar neste dia.

Exemplo de agitador de mentes. Ateu. E no entanto, escreveu muito sobre Deus. Uma prova de que ele vivia em conflito com a religião. E os conflitos ideológicos são positivos, desde que não levem à violência e à opressão.

14.6.10

Tive tempo

Não tenho tempo.
Nem sofrimentos sobre que escrever. Parece tudo equilibrado.
Tenho saudades de passar a caneta pelo papel. Das palavras decorridas à velocidade e ao sabor dos pensamentos.
De dar musicalidade às letras. Pelo menos, a minha musicalidade.
E é essa que me interessa. Quando nos faz sentido, atinge-se um belo objectivo. Depois há as introduções e teorias da literatura para estudar as palavras ambíguas e misteriosas do poeta ou escritor que sofre.

A arte, para mim, é a expressão do sofrimento por excelência.

Da emoção difícil de digerir. Da problemática humana.


E eu sei que por vezes sou problemática.
Pânico sinto, em maioria, nas coisas mais pequenas.
As grandes só se podem construir com o tempo.

Porém, basta sentar-me num miradouro para melhor relativizar as coisas.
Dali, pouco importa mais que a arquitectura e a beleza da cidade.

E quando ando fula, passada, com os nervos em franja, nada como bater sola por ruas desconhecidas, descobrir recantos encantados, livrarias raras, cafés cheios do charme do bairro.


Sair da monotonia, ouvir novas vozes e dizeres.