A
primeira vez que saiu de casa com a bicicleta, caiu. A calcada escorregadia e
cheia de obstáculos fê-la estrear-se no chão. Pensou para consigo que esta
ideia de ter um comportamento mais responsável no que toca ao ambiente talvez
não fosse assim tão genial. Comprou uma bicicleta através de um anúncio de
usados, com o intuito de passear, de fazer exercício e poupar uns meses de
transportes públicos. Perderia tempo de leitura, ganharia uns músculos mais
tonificados. Porém, a queda apresentou-lhe uma das primeiras dificuldades: a
cidade de Lisboa não estava preparada para a circulação de bicicletas; pelo
menos não tão bem quanto as cidades do Norte da Europa. Na sua íntima opinião,
a cidade de Lisboa nem sequer está bem preparada para a circulação de
automóveis. Os passeios são feitos de um material escorregadio; a disposição
das ruas é pré-histórica. O ambiente rústico das ruas não se adequa a outro
meio de transporte para além das ditas pernas, principalmente nos pequenos
bairros (ou inclinados!). Sem nada, calcado confortável e anti-derrapante,
mochila e nem pensar em carrinhos de bebé.
(foto retirada da net)
Adiante. Está na hora de me levantar.
Talvez tenha de voltar a casa para trocar de roupa. Não, parece que os danos
são nulos. Mas que maçada! A bicicleta ficou com uns riscos. Enfim, marcas das
dores de crescimento desta nova fase. Onde é que eu ia mesmo? Ah, tenho de
levar estas roupas à associação. Depois vou cortar o cabelo e, se der, parar
para tomar um cafezito e ler o jornal. Talvez devesse escrever sobre esta minha
experiência de cair de bicicleta. Ninguém viu, ainda bem, mas e se eu caísse em
plena estrada ou ciclovia? Será que me acudiriam? No Norte de Europa isso
aconteceu-me. Pelo menos três homens vieram ter comigo e perguntaram-me se eu estava
bem... Caso estivesse à procura de namorado, teria sido a oportunidade ideal,
mas fiquei cheia de vergonha. Como era de noite e eu não tinha luz, não vi que
a ciclovia tinha um pequeno desnível em relação ao passeio de peões... Ao
passar de um para o outro, com o ângulo incorrecto, dei conta que estava no
chão. Portanto, duas regras muito importantes de uma queda só: usar luz durante
a noite e ter atenção aos desníveis.
Em Portugal, os desníveis são outros.
Subir uma calcada é um desporto radical. Por isso é que os idosos teimam em
andar pela estrada (meios rurais), em vez de subirem o passeio.
Ok, não vou olhar apenas para os
aspectos negativos da cidade. Cada vez que me sento num banco da Duque d'Ávila,
admiro os vários utilizadores da ciclovia. São variados e todos deviam ostentar
uma medalha de Coragem! E a todos aqueles que partilham os asfalto negro com os
automóveis, esses! Deviam ostentar uma medalha de Coragem Extra.
Eu cá vou experimentando devagarinho. Ainda ontem vi uma pasteleira a
derrapar numa rua de calcada larga. Era uma rapariga. Também ela devia ostentar
uma medalha, porque podia ser eu no lugar dela. Mas não, ela nao caiu.
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