24.9.12

A bela queda de bicicleta




A primeira vez que saiu de casa com a bicicleta, caiu. A calcada escorregadia e cheia de obstáculos fê-la estrear-se no chão. Pensou para consigo que esta ideia de ter um comportamento mais responsável no que toca ao ambiente talvez não fosse assim tão genial. Comprou uma bicicleta através de um anúncio de usados, com o intuito de passear, de fazer exercício e poupar uns meses de transportes públicos. Perderia tempo de leitura, ganharia uns músculos mais tonificados. Porém, a queda apresentou-lhe uma das primeiras dificuldades: a cidade de Lisboa não estava preparada para a circulação de bicicletas; pelo menos não tão bem quanto as cidades do Norte da Europa. Na sua íntima opinião, a cidade de Lisboa nem sequer está bem preparada para a circulação de automóveis. Os passeios são feitos de um material escorregadio; a disposição das ruas é pré-histórica. O ambiente rústico das ruas não se adequa a outro meio de transporte para além das ditas pernas, principalmente nos pequenos bairros (ou inclinados!). Sem nada, calcado confortável e anti-derrapante, mochila e nem pensar em carrinhos de bebé.
(foto retirada da net)
Adiante. Está na hora de me levantar. Talvez tenha de voltar a casa para trocar de roupa. Não, parece que os danos são nulos. Mas que maçada! A bicicleta ficou com uns riscos. Enfim, marcas das dores de crescimento desta nova fase. Onde é que eu ia mesmo? Ah, tenho de levar estas roupas à associação. Depois vou cortar o cabelo e, se der, parar para tomar um cafezito e ler o jornal. Talvez devesse escrever sobre esta minha experiência de cair de bicicleta. Ninguém viu, ainda bem, mas e se eu caísse em plena estrada ou ciclovia? Será que me acudiriam? No Norte de Europa isso aconteceu-me. Pelo menos três homens vieram ter comigo e perguntaram-me se eu estava bem... Caso estivesse à procura de namorado, teria sido a oportunidade ideal, mas fiquei cheia de vergonha. Como era de noite e eu não tinha luz, não vi que a ciclovia tinha um pequeno desnível em relação ao passeio de peões... Ao passar de um para o outro, com o ângulo incorrecto, dei conta que estava no chão. Portanto, duas regras muito importantes de uma queda só: usar luz durante a noite e ter atenção aos desníveis.
Em Portugal, os desníveis são outros. Subir uma calcada é um desporto radical. Por isso é que os idosos teimam em andar pela estrada (meios rurais), em vez de subirem o passeio.
Ok, não vou olhar apenas para os aspectos negativos da cidade. Cada vez que me sento num banco da Duque d'Ávila, admiro os vários utilizadores da ciclovia. São variados e todos deviam ostentar uma medalha de Coragem! E a todos aqueles que partilham os asfalto negro com os automóveis, esses! Deviam ostentar uma medalha de Coragem Extra.
Eu cá vou experimentando devagarinho. Ainda ontem vi uma pasteleira a derrapar numa rua de calcada larga. Era uma rapariga. Também ela devia ostentar uma medalha, porque podia ser eu no lugar dela. Mas não, ela nao caiu.

No comments: